Quando a tecnologia é boa, o usuário a incorpora como um hábito. É assim com inúmeros sistemas presentes na nossa rotina, desde os mais simples, como os de mensageria, até as soluções mais sofisticadas, que nos apoiam na organização do trabalho. Com as soluções de conformidade tributária, não é diferente; dada a complexidade da legislação, que exige constantes investimentos dos fornecedores de tecnologia para o desenvolvimento de novas aplicações que atendam à crescente demanda por informações do Fisco de forma facilitada para as empresas no dia a dia.
A digitalização da nossa economia, catalisada pela pandemia de covid-19, serviu como um grande motivador para o nosso mercado estourar a bolha da inovação na marra. Se antes falava-se da adoção de tecnologias de automação inteligente capazes de antever melhorias aos sistemas de negócios como algo pertencente a um futuro distante, hoje, a corrida pela implementação dessas soluções já é uma realidade. O futuro chegou e a régua só vai subir.
É verdade que o nosso Fisco é case global de digitalização, apoiando-se em soluções tecnológicas desde a década de 90, época do lançamento do Sintegra – um dos primeiros projetos técnicos do governo para auditar arquivos digitais das empresas – que abriu caminho para a realidade que temos hoje.
Sem elevar a carga tributária, a iniciativa já aumentou substancialmente a arrecadação para o governo, que conseguiu aprimorar a fiscalização a partir da tecnologia. Atualmente, o contribuinte gera diversas declarações ao Fisco, algumas até em tempo real, e o desafio passa a ser a conformidade entre essas informações.
Tais métodos desafiaram as empresas a investir em sistemas tributários, abrindo uma demanda por profissionais com conhecimento em tributação e tecnologia, o que chamamos de “TI + IT” (Tax Intelligence + Information Technology), aptos a gerenciar as entregas das obrigações com a mesma naturalidade com que utilizam as soluções, algo até então incomum no mercado.
Se, por um lado, a adoção de recursos tecnológicos de ponta como os que citei acima apoiam o trabalho dos tributaristas, que é pautado pelo acompanhamento, interpretação e aplicação das alterações da legislação no planejamento das empresas, mitigando erros e economizando tempo, por outro, exige que eles absorvam cada vez mais competências da área de tecnologia para desenvolverem bem suas atividades.
É o que chamamos de Tributação 4.0, ou o reflexo das transformações oriundas da Quarta Revolução Industrial no nosso setor, que amarrou o conceito das transformações pelas quais vínhamos passando a partir da incorporação de soluções de automação inteligente nas nossas atividades. E adianto que temos muito a ganhar.
De acordo com levantamento do Banco Mundial, o tempo gasto por empresas com obrigações tributárias no Brasil é o maior do mundo – variando de 1.483 a 1.501 horas por ano. Ainda não há um software capaz de fazer mágica e entregar as obrigações ao Fisco sem interferência humana, mas a tecnologia caminha nessa direção, com a visão a curto prazo de que os sistemas antecipem problemas e sugiram melhorias de forma proativa, facilitando a condução do planejamento. Esse profissional 4.0 na área tributária terá o dever de encontrar soluções e meios para que a empresa evolua.
E se a Indústria 4.0 já é uma realidade tangível, o profissional tributário 4.0 também se faz necessário. Ainda existem tributaristas que não conseguem assimilar o uso das ferramentas tecnológicas, assim como profissionais de TI que não compreendem a necessidade de evolução na área contábil, e principalmente na área tributária, mas no futuro – ou quase presente – é claro, as duas áreas caminharão juntas. Os profissionais tributários precisam estar atualizados e familiarizados com as novas demandas, ou seja, menos trabalho operacional e mais coordenação tecnológica e visão analítica.
A Inteligência Artificial, aliada ao Business Intelligence, trará o benefício da análise preditiva e criará uma cultura de antecipação, em que haverá um mapeamento dos processos e um apontamento dos erros antes mesmo de qualquer esforço operacional. esse profissional deverá apresentar, cada vez mais, uma visão estratégica ao lidar com essas ferramentas.
Outra tecnologia percebida é a adoção de mecanismos como o Blockchain, possibilidade que começa a se destacar nos estudos desenvolvidos, e até em algumas aplicações, por permitir que sistemas integrados falem entre si, criando pequenos blocos de processos determinados por regras e padrões.
A implementação sistêmica desse novo capítulo da tecnologia tributária ainda está em processo e, na contramão do avanço tecnológico, existe a promessa da reforma tributária, mas enxergo que, infelizmente, nas próximas décadas nosso panorama ainda será pautado pela complexidade, fazendo da tecnologia a grande aliada dos contribuintes contra o Custo Brasil. Caberá aos profissionais o desafio de transformar a área tributária em um processo mais sofisticado e menos operacional, buscando manter a conformidade como padrão estabelecido.
Por César Matsuda, gerente de vendas da Synchro
Fonte: https://www.jornaljurid.com.br/noticias/tributacao-40-inteligencia-artificial-a-servico-da-conformidade
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