O Brasil está prestes a viver uma das mais profundas transformações fiscais de sua história. A partir de 2026, cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) começarão a ser substituídos pelo Imposto sobre Valor Agregado dual (IVA dual), que dará origem à Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e ao Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).
O objetivo da reforma é simplificar o sistema tributário, reduzir distorções e dar mais transparência à arrecadação. Na prática, porém, essa transição exigirá um esforço estratégico das empresas para adaptar modelos de negócio, rever cadeias de fornecimento e garantir que cada operação esteja em conformidade com as novas regras. E o tempo é curto: 2025 foi o ano crucial de preparação, um divisor de águas entre quem chegará a 2026 pronto para operar e quem enfrentará altos custos de adequação.
O desafio da transição vai além da contabilidade
A implementação do IVA dual muda completamente a lógica da tributação no país. Se antes as empresas lidavam com cinco tributos de naturezas e regras distintas, agora o desafio será operar sob um modelo que exige rastreabilidade, clareza nas operações e consistência total entre as informações fiscais declaradas em diferentes esferas.
O impacto não será apenas operacional. Ele tocará diretamente o modelo de negócios, já que a forma de incidência e de crédito dos tributos afetará margens de lucro, preços e decisões de produção. Setores com longas cadeias produtivas, alto volume de insumos ou operações interestaduais precisarão de um olhar ainda mais atento para evitar perda de créditos e desequilíbrio financeiro.
Também há o risco de inconsistências entre as legislações estaduais e municipais durante a fase de transição. O período de convivência entre o sistema antigo e o novo (previsto para durar até 2032) cria um ambiente de complexidade inédita, em que as empresas precisarão cumprir obrigações duplas, prestar contas sob regras distintas e garantir precisão nas declarações para evitar autuações.
A estratégia como diferencial competitivo
Em vez de enxergar a Reforma Tributária apenas como um desafio operacional, as empresas que desejam sair na frente devem tratá-la como um movimento estratégico. A transição será um campo de testes não só para sistemas fiscais, mas também para a maturidade de governança tributária das organizações.
O primeiro passo é adotar uma visão integrada da gestão tributária. A conformidade normativa não pode mais ser responsabilidade exclusiva do departamento fiscal: é uma pauta que precisa envolver finanças, controladoria, jurídico e até áreas de planejamento estratégico. Isso porque a nova estrutura tributária afetará desde o preço final de produtos até a escolha de fornecedores e o desenho de contratos comerciais.
Outro ponto essencial é simular cenários econômicos e fiscais sob o novo regime. As empresas que projetarem diferentes modelos de incidência, considerando suas particularidades regionais e operacionais, estarão mais preparadas para tomar decisões assertivas quando as novas alíquotas e regras forem definidas. Essa antecipação permitirá, por exemplo, recalibrar margens, rever políticas de repasse de custos e ajustar estratégias de mercado.
Há também uma dimensão de inteligência tributária que se tornará decisiva. A reforma exigirá um nível de precisão e consistência nos dados fiscais sem precedentes. Nesse contexto, a capacidade de cruzar informações, identificar divergências e agir rapidamente sobre elas será o diferencial entre uma empresa que cumpre a legislação e outra que se torna referência em governança fiscal.
Além disso, será indispensável acompanhar de perto a regulamentação e os debates do Comitê Gestor do IBS e da CBS. As normas complementares definirão detalhes cruciais, desde regras de crédito até o tratamento de setores específicos. Participar ativamente de discussões setoriais, associações e fóruns tributários pode garantir às empresas não apenas acesso antecipado às mudanças, mas também influência sobre sua formatação final.
A oportunidade por trás da transição
Apesar do tamanho do desafio, a transição tributária representa uma oportunidade rara de reestruturar a gestão fiscal no Brasil. Empresas que se anteciparem poderão transformar um processo complexo em vantagem competitiva, adotando práticas mais transparentes, sustentáveis e eficientes.
A revisão de políticas internas, o fortalecimento de controles e a integração entre áreas corporativas criarão uma base sólida para operar em um ambiente tributário mais previsível e moderno. Esse movimento também tende a aproximar as empresas do fisco, que, por sua vez, passará a atuar com mecanismos mais automatizados e voltados à análise de dados.
De maneira geral, 2025 não foi apenas um ano de transição técnica, mas o ponto de virada para redefinir a estratégia tributária das empresas brasileiras. A reforma inaugura um novo capítulo no ambiente de negócios do país, exigindo preparo técnico, visão estratégica e capacidade de adaptação. Mais do que cumprir a lei, o verdadeiro desafio está em compreender que o futuro da competitividade empresarial dependerá da habilidade de transformar a complexidade do novo modelo tributário em vantagem, e aquelas que enxergarem esse processo como uma oportunidade de amadurecimento institucional estarão um passo à frente quando a nova era fiscal começar.
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